O TEATRO MUNICIPAL DE GUARARÁ - MG




TEATRO MUNICIPAL
Texto do jornal "O GUARARÁ" (ANO XXI, Nº 21) de 01/06/1940

O sólido, moderno, confortável e lindo Teatro Municipal que a Prefeitura local acaba de construir nesta cidade, vai ser festivamente inaugurado no dia 23 do andante.
Era o único próprio público de que se ressentia esta cidade, que agora fica dispondo de tudo necessário ao relativo conforto e bem estar de sua população. É mais um importante e útil marco que fica assinalando à fecunda administração de que desfruta o nobre povo guararense, construído e já pago pela respectiva verba orçamentaria, despendida sem o sacrifício de outros serviços municipais.
Sabemos que não foram pequenos os esforços dos empreendedores dessa magnifica obra educativa e recreativa. Mas, sabemos também que não lhes faltou o apoio e a boa vontade de nossa gente. Vários foram os donativos recebidos, entre os quais é de se registrar mais uma vez a rica e artística Bandeira Nacional, oferta das damas guararenses, e iniciativa e confecção do ilustrado corpo docente do Grupo local; a superior cortina da boca de cena, oferecida pelo Cel. Bertholdo Garcia Machado; o letreiro luminoso da fachada principal, dádiva do funcionalismo federal, estadual e municipal local, e o fardamento para a corporação musical, presente valioso do Cel. Pedro Leite.
O nosso Teatro está lindamente decorado, mobiliado, dispondo de tudo mais necessário ao fim a que se destina. Satisfaz,, com vantagens, as exigências locais, e oferece aos espectadores conforto e ambiente que devem agradar ao gosto mais exigente.
Sua inauguração será ás 19 horas em ponto, com o seguinte programa, sujeito a modificações: Apoteose da República, sendo o Hino Nacional cantado por 21 meninas, representando, cada uma, um
Estado da Federação Brasileira; discurso do Prefeito e do orador oficial da solenidade; Hino da Bandeira, por um coro de meninas; um ato variado, e a representação da interessante comédia "Não me contes esse pedaço", por um grupo de amadores locais.
Só terão ingresso as pessoas previamente convidadas e munidas de um cartão cujo numero corresponde ao da cadeira que lhe está designada. Por não ser possível convite geral, o mesmo espetáculo será repetido no dia seguinte, dedicado às pessoas que, somente por falta de espaço, não puderam ser chamadas para o ato inaugural, e às crianças das escolas públicas, sendo os ingressos distribuídos na hora, na bilheteria do Teatro.
Por mais esse melhoramento antecipamos nossos parabéns, não ao nosso grande Prefeito, mais ao querido povo de nossa amada terra.



O TEATRO MUNICIPAL DE GUARARÁ

01 - Descrição:
O imóvel este em estilo "Art déco" foi construído para abrigar o Teatro Municipal da cidade. Está implantado em terreno plano no alinhamento do passeio e possui partido retangular com pé direito alto. O acesso é feito por três degraus na porta central da fachada principal na Rua Capitão Gervásio, que dá acesso ao hall de entrada. Pela travessa Gilson Mendonça possui uma porta de entrada na parte posterior dessa fachada lateral, de acesso aos camarins e ao palco.
Sua estrutura é autoportante de tijolo maciço e possui laje no mezanino. A sua cobertura faz-se em duas águas, e meia-água na parte posterior, sobre os camarins, com vedação em telha francesa. Nas laterais possui beiral em caixote e a fachada é coroada por platibanda.
Suas fachadas tem uma proporção de cheios bem maior que de vazios, e são caracterizadas pela volumetria. Seus vãos são todos em verga reta e a fachada principal possui revestimentos com planos diferenciados, em fulget. As fachadas laterais possuem revestimento em reboco pintadas com tinta a a base de água na cor branca.
A fachada principal é composta no térreo por um grande vão central rasgado por inteiro com a porta de ferro sanfonada ladeada por dois basculantes, um de cada lado, de ferro com vidro transparente martelado. Em toda a extensão desta fachada, ao nível do piso do mezanino interno, há uma marquise de laje em balanço com decoração de friso de cordão entrelaçado em todo o seu perímetro e sob ela, três globos de iluminação. Sobre a marquise, na sua parte central da extremidade do balanço há um letreiro luminoso metálico com vedação em vidro martelado, e com alturas diferenciadas, sendo o centro mais extenso e mais alto. Ainda nesta fachada, ao nível do mezanino, tem-se, um vitral central fixo da largura da porta, com vidros martelados, nas cores azul, verde, laranja, vermelho e transparente, simetricamente dispostos. De cada lado desse vitral tem-se um basculante, na direção dos do térreo, com vidros martelados transparente, e verde nos ângulos. Acima de cada um desses vão encontra-se afixada na fachada uma luminária de ferro tipo tocha. Essa fachada possui o revestimento em rebaixo, em três faixas verticais, uma na direção de cada vão.
A platibanda se faz em alturas diferenciadas. Sobre a parte centrai é mais alta e possui decoração vertical em massa no centro e nas laterais. Entre os vãos possui altura intermediária e sobre os basculantes laterais é mais baixa. Esse escalonamento de altura se faz em iguais proporção.
A fachada lateral esquerda possui apenas três vãos, na altura próxima a do mezanino. São janelas de madeira com venezianas, de uma folha de abrir. A fachada lateral direita, além dessas três janelas altas há ainda uma porta e uma janela de madeira de duas folhas de abrir, no vão de acesso aos camarins.
Internamente, o hall possui piso em ladrilho hidráulico, na parede frontal à porta há uma pintura artística de um grande vaso de flores e sobre eles um violonista e uma dama, seu teto é em laje que sustenta o mezanino superior e também possui pinturas artísticas de cercaduras e flores. No hall há ainda a escada de madeira de acesso ao mezanino, este possui guarda-corpo em balaustrada de massa.
Na plateia o piso é cimentado com resina vermelha, seu forro de madeira possui uma pintura longitudinal de uma faixa com formas triangulares que é ladeada por frisos. Possui rodateto de madeira igual à faixa que percorre o perímetro do forro. As paredes são amplamente decoradas com pinturas artísticas, abaixo do rodateto uma faixa geométrica percorre toda a parede, as pinturas abaixo são de buquês de flores, três em cada parede, abaixo do palco uma pintura de sol com raios. O vão de abertura do palco possui enquadramento de madeira com pinturas artísticas, na parte superior tem-se pintura com o monograma"TM", referência à denominação "Teatro Municipal".
O piso do palco é de madeira e o dos camarins é cimentado pintado na cor verde. Nos camarins há um banheiro com revestimento de azulejo até meia-parede.

02 - Histórico:
O Teatro Municipal de Guarará começou a ser construído em 1939 e foi inaugurado em 23 de junho de 1940. Arquitetoricamente a construção se enquadra no estilo Art Deco, e apresenta muitas das características próprias do estilo que são as estruturas austeras, onde se destaca o geometrismo mediante a combinação ou inserção de superfícies planas cortadas mecanicamente e sustentadas por suportes finos. Como historicamente também é próprio do estilo, grande é o contraste decorativo interior-exterior, apresentando o interior rico detalhamento e tratamento estético na decoração de superfície, com utilização de materiais exóticos e texturas naturais.
Até o ano de 1945, na gestão do Coronel Affonso Leite e Bertholdo Machado, a edificação sediou grandes apresentações de companhias teatrais importantes e abrigou grande número de eventos sociais diversos, essa época, foi segundo os antigos moradores do município, o período em que a entidade mais atuou na área cultural.
Entre os depoimentos levantados o que mais fornece informações relevantes é o da professora aposentada Neuza de Oliveira, nascida em 08/12/1920 ainda moradora no município de Guarará:.


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(…) As suas pinturas artísticas foram feitas por três pintores da Escola de Belas Artes de Juiz de Fora e que mais tarde ganharam prêmio na frança. O pano de boca foi pintado por Arnaud Gribel, pintor local além de ser um excelente músico
O Teatro era considerado o cartão de visita da cidade pois todos que aqui vinham faziam questão de visitá-lo. Nele trabalharam companhias teatrais como a Procópio Ferreira que apresentou as peças Deus lhe pague e Não me contes esse pedaço, além de trazer diversas vedetes.
As irmãs Iracema e Norma Garcia colaboraram muito conseguindo trazer elencos teatrais e conferencistas famosos para nele atuar. Uma das concertistas famosas foi Magdalena Tagliaferro que mais tarde mudou se para a França recebendo lá muitos prêmios pelo seu trabalho.
Esteve nele, para cantar, Orlando Silva do Rio de Janeiro e um grande jornalista, escritor e poeta, Agripino Grieco; de Bicas, atuou um elenco teatral.
Além das peças teatrais foram apresentados nele mágicos e palhaços de circos famosos como o Serrazane do Rio de Janeiro.
Aos poucos, a juventude de Guarará conseguiu apresentar algumas peças. Mais tarde serviu para ser apresentado, no prédio, o cinema exibindo ótimos filmes.
O Grupo Escolar “Ferreira Marques” também contribuiu para a cultura trazendo, nas datas cívicas conferencistas que vinham de outras cidades.
A decadência do teatro começou quando sua porta foi aberta para bailes carnavalescos e festas que não incluía “cultura”.”























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O depoimento foi colhido das palavras de Dona Neuza de Oliveira, nascida em 08 de dezembro de 1920. Este depoimento foi registrado em abril de 2003, transcrito e arquivado por André Colombo, pesquisador da Fundação Cultural Chico Bonedrio – Rio Novo-MG.

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A peça teatral "Não me conte esse pedaço!...", de autoria do teatrólogo Jayme Costa, foi apresentada por ocasião da inauguração do Teatro Municipal. A pequena cidade concorreu em peso para a inauguração. A Banda de música, postada defronte ao prédio, tinha à sua frente a regência do maestro Otávio de Carvalho, e o elenco improvisado compunha-se por, entre outros, professores e políticos locais da época.




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Anteriormente à construção do Teatro Municipal, algumas pequenas peças e encenações teatrais tinham lugar nas dependências do Grupo Escolar Ferreira Marques e eram seus alunos os precursores das artes em Guarará. Mais tarde, com a construção do Teatro, a vida cultural adquiriu nova dinâmica o que resultou de grande importância para a para a cidade. Dentre as poucas opções de lazer, lá estavam as apresentações, em diversas ocasiões. Ele, o Teatro, foi palco de renomados artistas do cenário nacional, que brindavam aos guararenses e circunvizinhos com a graça de assistir renomadas peças teatrais renomadas e outras ímpares exibições artísticas, como a peça teatral “Deus lhe Pague” de Juracy Camargo, apresentada pela companhia de Procópio Ferreira, etc.